A representação técnica de formas assumiu importância fulcral no processo de fundação do Instituto Superior Técnico. A sua relevância para a missão do Instituto motivou Alfredo Bensaude a afirmar, nas Notas Histórico-Pedagógicas (1922), que sem a sua aprendizagem a missão da Escola resultaria comprometida. O “desprezado” desenho técnico permitiria assegurar o “ensino prático” razão de ser da Escola. Segundo as palavras do Professor e seu Fundador os resultados do desempenho do Instituto dependeriam “muito essencialmente do ensino prático”. O desenho técnico suportaria as desejáveis ligações com as oficinas, nomeadamente de carpintaria e de serralharia, por intermédio das quais os alunos teriam a possibilidade de adquirirem a sua “instrução técnica” complementar dos trabalhos de laboratório. Pela via do desenho técnico seriam organizados os fluxos de trabalho, possibilitando a comunicação entre alunos e artífices oficinais especializados com vista à produção de “modelos de órgãos de máquinas” e peças simples de “máquinas-ferramentas” tais como pequenos limadores mecânicos e tornos de marcha. Sem o domínio do desenho técnico esse objetivo seria inatingível.

A deficiente preparação dos alunos ingressados no primeiro ano de funcionamento do Instituto, incapazes de desenhar à mão livre o mais singelo modelo nem sabendo fazer uso do T, nem do esquadro, nem do tira-linhas, nem sequer do lápis lançou o alarme e, no ano seguinte, medidas foram tomadas alargando o ensino do desenho de um para dois anos, continuando a disciplina inserida no tronco comum relativo ao curso geral. Complementarmente os exames de admissão ao IST passaram a incluir provas de desenho em paridade com provas de matemática, física e química.

Volvidos mais de cem anos este legado permanece, atualizado, nos curricula do Técnico. O acervo de cerca de 880 desenhos técnicos (alguns centenários) à guarda do Museu de Engenharia Civil permite-nos seguir o seu trajeto no tempo. Para alguns deles ainda é possível emparelhá-los com os respetivos modelos de madeira pintada, primorosamente executados. Os seus traçados unem o nosso presente a esse passado. São expressão de uma memória que desejámos recuperar nesses desenhos, a lápis, a tinta-da-china, e até a giz (!) branco, ou de cor, sobre cartolinas negras, e magníficos blue prints.

A presente homenagem a esse passado fundador é celebração da herança por todos nós recebida e a revisitação desses desenhos e modelos será oportunidade para se avaliarem os benefícios da moderna tecnologia de representação gráfica. Os alunos de hoje, beneficiários dos novos recursos computacionais homenagearam os seus colegas de ontem reestudando e redesenhando exercícios e modelos que persistem à guarda deste museu. Prevaleceram as normas de representação técnica mas refundaram-se os procedimentos e os equipamentos. Os alunos já não necessitaram de “fazer uso do T, nem do esquadro, nem do tira-linhas, nem sequer do lápis” e já não estão dependentes de melhor ou pior coordenação neuromuscular condicionadora do manuseamento de “bicos-de-pato”, compassos, “bailarinas”, normógrafos, pantógrafos, escantilhões, grafos, borrachas, raspadores, tintas da China, negras, amarelas, vermelhas… Os nostálgicos desses cenários revolutos poderão, no entanto, argumentar judiciosamente que a “revolução digital” não suplantou a beleza e materialidade dos desenhos técnicos em papel vegetal e tinta da China “feitos à mão num estirador”.

 

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